Segurança e eficácia da infusão intravenosa de células-tronco mesenquimais do cordão umbilical em pacientes com insuficiência cardíaca

Estudo clínico randomizado, duplo-cego, placebo controlado, fase 1/2 (Rimecard), realizado nas Clínicas Santa Maria e Dávila, Chile

As células-tronco mensequimais

As células mesenquimais (CMS) são uma linhagem de células-tronco somáticas que estão presentes em vários tecidos, incluindo a medula óssea, o tecido adiposo e o tecido do cordão umbilical. Elas são multipotentes, capazes de se diferenciar e produzir qualquer tipo celular necessário num processo de reparação, como células epiteliais, cardíacas, entre outras, sendo foco de inúmeras pesquisas em todo o mundo.

As CMS na cardiologia

Os experimentos com infusões intracoronárias e intramiocárdicas de CMS, principalmente alogênicas derivadas da medula óssea, demonstraram-se seguros e potencialmente eficazes para melhorar a função cardíaca e regenerar danos no tecido cardíaco através de mecanismos de transdiferenciação, fusão celular e modulação parácrina.

Estão em estudo há mais de 10 anos


Ilustração de fundo
Ilustração 3D de um feto no útero

As células-tronco mesenquimais do cordão umbilical (CMS-CU)

Embora a maioria dos estudos tenha usado CMS de medula óssea, estudos pré-clínicos demonstraram que as células do cordão umbilical têm capacidade de se diferenciar em cardiomiócitos in vitro, e também de exercer efeito parácrino capaz de melhorar a regeneração vascular e a proteção dos cardiomiócitos, o que poderia justificar a melhora da função cardíaca em modelos animais com cardiomiopatia que receberam infusão de CMS-CU.


O estudo

Foi realizado o primeiro estudo randomizado, placebo controlado para avaliar a segurança e a eficácia da infusão intravenosa de CMS-CU em pacientes com insuficiência cardíaca crônica e fração de ejeção reduzida (ICFER). O estudo ocorreu no Chile, nas Clínicas Santa Maria e Dávila, com 30 pacientes, entre dezembro de 2012 a junho de 2014.

Metodologia

Pacientes com ICFER sob tratamento médico otimizado foram randomizados para infusão intravenosa de CMS-CU alogênicas (1×106 células/kg) ou placebo (n = 15 por grupo).

  • Todos os pacientes foram avaliados na linha de base e nos pontos de seguimento preestabelecidos de 3, 6 e 12 meses, que consistiam em:
    • Avaliação clínica de eventos adversos;
    • Classificação funcional da New York Heart Association (NYHA);
    • Questionário Minnesota e Questionário de Cardiomiopatia de Kansas City;
    • Testes laboratoriais, ECG, Holter, ecocardiografi a transtorácica, ressonância magnética cardíaca e teste de esforço cardiopulmonar.
  • As CMS foram obtidas de cordões umbilicais doados, foram expandidas e submetidas a testes de viabilidade e caracterização celular.
  • O grupo placebo recebeu 100 mL de plasma.
Ilustração de fundo
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Resultados

  • Os pacientes tratados com CMS-CU não apresentaram eventos adversos relacionados com a infusão celular.
  • Somente o grupo tratado com CMS-CU apresentou melhorias significativas na fração de ejeção do ventrículo esquerdo em 3, 6 e 12 meses de acompanhamento avaliados através de ecocardiografia (P = 0,0167 versus linha de base) e ressonância magnética cardíaca (P = 0,025 versus linha de base).
  • O aumento do valor da fração de ejeção do ventrículo esquerdo com relação à linha de base para o mês 12 diferiu significativamente entre os grupos (MCS-CU: + 7,07 ± 6,22% versus placebo: + 1,85 ± 5,60%; P = 0,028).
  • Em todos os tempos de acompanhamento, os pacientes tratados com CMS-CU apresentaram melhorias da classe funcional da NYHA (P = 0,0167 versus linha de base) e do Questionário Minnesota (P <0,05 versus linha de base). Os grupos não diferiram em mortalidade, admissões por insuficiência cardíaca, arritmias ou incidência de malignidade.
Ilustração de um coração realista

Desfechos primário e secundário na linha de base e seguimento

VariávelGruponLinha de base3 meses6 meses12 meses
ET FEVEPlacebo1431,53±4,8933,00±7,2432,79±7,7633,39±7,38
MSC-CU1433,50±6,0937,21±6,80 #38,93±5,74 #40,57±8,19 #
NYHAPlacebo141,71±0,481,50±0,621,43±0,551,46±0,63
MSC-CU142,07±0,621,57±0,61 #1,50±0,59 #1,43±0,63 #
ET = ecocardiograma transtorácico / RM = ressonância magnética / FEVE = fração ejeção ventrículo esquerdo (%) / NYHA = classificação funcional New York Heath Association
p<0,0167 versus linha base

Ícone - Conclusão

Conclusão

A infusão intravenosa de CMS-CU foi viável e segura neste grupo de pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida. A intervenção resultou em melhora significativa na função ventricular esquerda, na classe funcional e qualidade de vida dos pacientes.

Estes achados sugerem que as CMS-CU poderiam ter um impacto nos resultados clínicos, apoiando novos testes através de ensaios clínicos maiores.

Ilustração do corpo humano

Artigo original:

Safety and Efficacy of the Intravenous Infusion of Umbilical Cord Mesenchymal Stem Cells in Patients With Heart Failure A Phase 1/2 Randomized Controlled Trial (RIMECARD Trial [Randomized Clinical Trial of Intravenous Infusion Umbilical Cord Mesenchymal Stem Cells on Cardiopathy])